DELEUZE, Gilles; QUATTARI, Fêliz. Rizoma. In: Mil Platôs- capitalismo e esquizofrenia, tradução de Aurélio Guerra e Celia Pinto Costa. Rio de Janeiro: ed 34.1995. RESENHA do primeiro e do segundo parágrafo, assim talvez seja mais perceptível o entendimento das ideias rizomaticas de Deleuze e Quattari.
Por Nazarete Andrade Mariano
Linha 2 – Letramento, Identidade e Formação de Professores.
Turma 2012 – Mestrado em Crítica Cultural.
Movimentando o pensamento para o Rizoma
O Rizoma nos é apresentado logo de inicio, pelos autores Deleuze e Guattari, como algo que não tem uma ordem cronológica, pois é um sentido que vai além do figurado, convidando o leitor a uma inter-relação entre o sentido próprio e o sentido figurado, dando a ideia de mudança com em um sistema nômade, que acredito quer ser um sistema aberto. Vale lembrar, que nas primeiras leituras feitas, também nos sentimos meios nômades, pois apenas ficamos com as desconfianças daquilo que possivelmente é compreendido, de que o pensamento dos autores nos fosse familiar, mas logo em seguida surge uma necessidade de aprofundar nessas ideias para que não venhamos correr o risco de confundir tais pensamentos, que aparecem com uma aparência nova, como se partisse de uma circunstância. Para tanto, é pertinente conhecer nossos próprios limites para assim, adentrar em territórios antes não preparados para esse acesso à leitura de Deleuziana.
Considerando, a grosso modo e talvez metaforicamente, que o rizoma é a extensão do caule de uma planta unindo sucessivos brotos. Diferentemente das arvores ou das raízes, acreditamos que o rizoma trata da inter-relação entre os conceitos, conectando um ponto com outro ponto qualquer, que pode ser entendido como o modelo de realização dos acontecimentos do principio característico das multiplicidades, com isso, feito de dimensões, sem inicio ou fim, mas sempre no meio, por isso ele constitui multiplicidades.
Logo de inicio Nota-se que Deleuze contrapõe, de forma implícita, a metafísica de Heidegger que compreende o ser enquanto ser existente e, não por sua linguagem, como propõe Heidegger. Bem como o ser uma vez que aquele não remete a palavra ser e sim a acontecimento, colocando em jogo até mesmo pertinência do nome SER, enquanto que este diz que acontecimento é algo além do ser.
Outro ponto de divergência entre os dois é em relação a sujeito e objeto, Heidegger diz que o homem é o sujeito e o mundo é o objeto, o homem sendo aquele que dispõe do objeto. Deleuze por sua vez problematiza de forma mais geral que não é o ser, mas a experiência. Como “ Um livro não tem objeto nem sujeito; é feito de matérias diferentemente formadas, de datas e velocidades muito diferentes.” ( P. 11)
Assim, Inicia o primeiro parágrafo também contrapondo a cultura da Grécia antiga, como com o mito de Édipo sendo vista com representação teatral, como um erro. O Édipo visto como uma máquina abstrata de construção da família que tem semelhança com o funcionamento do capitalismo, estabelecendo quem manda, ou melhor, o Anti-Édipo = Capitalismo e Esquizofrenia, no centro desse conflito estar presente o pensamento de Freud do inconsciente como representação, o drama de Édipo. Para Deleuze e Guattari, ao contrário de Freud, não é povoado por atores simbólicos, mas por máquinas desejantes, onde tudo funciona ao mesmo tempo como em um sistema corte-fluxo de forma paradoxal, maquinas essas que estão a todo vapor na sociedade, máquina social ( mercado capitalista, estado, igreja, exercito, família entre outras) e a máquina que aqui os autores denominaram de desejantes, que ao mesmo tempo se alimentam dela, fazem também fugir, pelo seu inconsciente.
Continua abordando que cada um de nós somos muito, que utilizamos tudo que nos aproxima e nos distancia. Nos remetendo a um questionamento “ Por que preservamos nosso nomes? Afirmando-nos que é por habito, dizendo que assim passaremos despercebidos, e nos tornamos imperceptível, aos que nos faz agir, experimentar ou pensar. Inclusive os autores se colocam como vários, como se as ideias contidas no texto não tivessem um único dono, mas vários. Assim termina o parágrafo abordando que as pessoas chegam a um ponto de dizer que não somos mais (EU). Não somos mais nós mesmos. Cada um reconhecerá os seus. Fomos ajudados, aspirados, multiplicados. . Se eu crio um conceito de um objeto (ou outrem), eu automaticamente me anulo, pois o objeto conceituado contém a pontencialidade de me definir como outrem (ou não-eu).
Acredito que este parágrafo faz uma introdução daquilo que será posteriormente definido como Rizoma, que não somos uno, mas multiplicados, nos seus mais diversos sentidos, em velocidades mensuráveis. Considerando que o conceito é o objeto de criação do filosofo, então o conceito é múltiplo, pois se relaciona com outros conceitos. Assim compreendemos que um termo é essencialmente puro, ou exclusivamente de seu outro, que talvez não tenha uma definição única para o rizoma, uma vez que os conceitos surgem a partir de circunstancias, como uma coisa nova para explicar e estabelecer problemas.
No segundo parágrafo, faz uma abordagem de como é construído o livro, situando o livro como um agenciamento, sendo ressonâncias que tem lados de territorialização e desterritorialização, no qual monta e desmonta uma ideia, em que você tem vários dados em um determinado texto fazendo parte de uma mesma coisa, pessoas e não pessoas montando e remontando à construção do objeto para explicar a construção do que seria, posteriormente, o livro. Diante desse entendimento, percebe-se que o livro é um agenciamento e como tal é um corpo sem órgão. Mas qual é o corpo sem órgão, para Deleuze e Guatarri? Fazendo mais uma releitura, percebe-se que os autores abordam que a máquina literária é como uma máquina de guerra, como uma máquina de amor [...], então o corpo sem órgão estar presente na a-significância em que está presente a algo novo que surge a todo instante, pois é preciso criar ideias, mas também pensar na negativa dessas ideias.
Nestes dois parágrafos o autor faz inferências aos pensamentos Heidegger, Freud, de Kafka por uma literatura menor, e no final do segundo parágrafo faz uma crítica ao pensamento Marxista quando diz “A literatura é um agenciamento, ela nada tem a ver com ideologia, e de resto, não existe e nem nunca existiu ideologia”. Nessa crítica o autor faz referencia ao pensamento de Foucault a partir da ideia de poder, em que esta ideologia acaba escondendo a realidade, pois o tempo todo existe produção, com isso o poder tende a produzir o tempo todo.
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