SÍNTESE – CAPÍTULO 8 - A Tradição viva – A. Hampaté Bâ– Professor Ivaldo Marciano – texto 2 – disciplina de Tradição oral e comunidade.
Por Nazarete Andrade Mariano
Linha 2- Letramento, Identidade e Formação de Professor
Síntese
O texto faz alusão a tradição da história da África, inicia com uma introdução afirmando que esta herança não se perdeu (tradição oral) e reside na memória da última geração de grandes depositários, de quem se pode dizer são a memória viva da África. [...] durante muito tempo, nações modernas, julgou que povos sem escrita eram povos sem cultura. Esse conceito infundado começou a desmoronar após as duas últimas guerras, graças ao notável trabalho realizado por alguns dos grandes etnólogos do mundo inteiro. ( p. 167)
O autor aborda que para alguns estudiosos, o problema todo se resume em saber se é possível conceder à oralidade a mesma confiança que se concede à escrita quando se trata do testemunho de fatos passados. [...] O testemunho, seja escrito ou oral, no fim não é mais que testemunho humano, e vale o que vale o homem. ( p.168)
Bem pertinente quanto afirma que os primeiros arquivos ou bibliotecas do mundo foram o cérebro dos homens. Antes de colocar seus pensamentos no papel, o escritor ou estudioso mantém um diálogo secreto consigo mesmo. Antes de escrever um relato, o homem recorda os fatos tal como lhe foram narrados ou, no caso de experiência própria, tal como ele mesmo os narra. ( p.168)
Nada prova a priori que a escrita resulta em um relato da realidade mais fidedigno do que o testemunho oral transmitido de geração a geração. [...] os próprios documentos escritos nem sempre se mantiveram livres de falsificações ou alterações, intencionais ou não, ao passarem sucessivamente pelas mãos dos copistas – fenômeno que originou, entre outras, as controvérsias sobre as “ Sagradas Escrituras”.
Adentra nessa discussão de forma peculiar , acredito que esta uma características dos pesquisadores da história, pois segundo o autor, nas sociedades orais que não apenas a função da memória e mais desenvolvida, mas também a ligação entre o homem e a palavra é mais forte. Onde não existe a escrita, o homem está ligado à palavra que profere. [...] porém ,a escrita pouco a pouco vai substituindo a palavra falada, tornando-se a única prova e o único recurso; vemos a assinatura tornar-se o único compromisso reconhecido, enquanto o laço sagrado e profundo que unia o homem à palavra desaparece progressivamente para dar lugar a títulos universitários convencionais. ( P.168)
É interessante destacar que nas tradições africanas a palavra falada se empossava, além de um valor moral fundamental, de um caráter sagrado vinculado à sua origem divina e às forças ocultas nela depositadas. Agente mágico por excelência, grande vetor de “forças etéreas”, não era utilizada sem prudência. ( P. 169)
Assim o autor vai mostrando o que é a tradição oral, a grande escola da vida, e dela recuperam e relaciona todos os aspectos. [...] a tradição oral conduz o homem à sua totalidade e, em virtude disso, pode-se dizer que contribuiu para criar um tipo de homem particular, para esculpir a alma africana. ( p. 169)
O subtópico “ A origem divina da Palavra” mostra um exemplo das tradições da savana ao sul do Saara, que retrata a tradição, o mito da criação do universo e do homem, ensinando pelo mestre iniciador do komo. [...] ( p.170/171). O autor afirma que a tradição africana, portanto concebe a fala como um dom de Deus. Ela é ao mesmo tempo divina no sentido descendente e sagrada no sentido ascendente. ( p. 172)
“ A fala humana como poder de criação” para os Maa Ngala, segundo o autor, a fala pode criar a paz, assim como pode destruí-la. É como o fogo. Uma única palavra imprudente pode desencadear uma guerra, ( Malinês) [...] a fala por excelência é o grande agente ativo da magia africana. ( p. 173)
“ A fala, agente ativo da magia” na Europa, a palavra “magia” é sempre tomada no mau sentido, enquanto que na África designa unicamente o controle das forças, em si uma coisa neutra que pode se tornar benéfica ou maléfica conforme a direção que se lhe dê. ( p. 173)
[..] o contexto mágico – religioso e social se situa o respeito pela palavra nas sociedades de tradição oral, especialmente quando se trata de transmitir as palavras herdadas de ancestrais ou de pessoas idosas. O que a África tradicional mais preza é a herança ancestral. O apego religioso ao patrimônio transmitido exprime-se em frase como: aprendi com meu mestre, aprendi com meu pai, foi o que suguei no seio de minha Mãe. (P. 174)
“ Os tradicionalistas” – os grandes depositários da herança oral são os chamados tradicionalistas. Memória viva da África, eles são suas melhores testemunhas. ( p. 174). Percebe-se que de maneira geral, os tradicionalistas foram postos de parte, senão perseguidos, pelo poder colonial que, naturalmente, procurava extirpar as tradições locais a fim de implantar suas próprias ideias, pois, como se diz, “ Não se semeia nem em campo plantado nem em terra alqueivada”. Por essa razão, a iniciação geralmente buscava refúgio na mata e deixava as grandes cidades de brancos ( dos colonizadores). ( P. 176)
[...] os últimos anciãos herdeiros dos vários ramos da Tradição provavelmente terão desaparecido. Se não nos apressarmos em reunir seus testemunhos e ensinamentos, todo o patrimônio cultural e espiritual de um povo cairá no esquecimento juntamente com eles, e uma geração jovem sem raízes ficará abandonada à própria sorte. ( P. 176)
“ Autenticidade da transmissão” ( p. 176), o autor remete à obrigação de respeitar a verdade mantida pelos tradicionalistas –doma, pois a tradição africana abomina a mentira. Diz-se: “ Cuida-te para não te separares de ti mesmo.” Acredita-se que isso deve-se ao fato de que se um oficiante mentisse, estaria corrompendo os atos rituais e este não mais preencheria o conjunto das condições rituais necessárias à realização do ato sagrado. Com isso, é pertinente observar que (segundo o autor) Independentemente da interdição da mentira, ele pratica a disciplina da palavra, pois se a fala é considerada uma exteriorização das vibrações de forças interiores, inversamente, a força interior nasce da interiorização da fala. (p. 178)
Outro ponto interessante do texto é em relação “ Os ofícios tradicionais” que são (segundo o autor) os grandes vetores da tradição oral africana, inclusive as atividades humanas possuíam um caráter sagrado ou oculto, principalmente as atividades que consistiam em agir sobre a matéria e transformá-la, uma vez que tudo é considerado vivo. (P.186) É pertinente contemplar que a relação do homem tido como tradicional com o mundo era, portanto, uma relação viva de participação e não uma relação de pura utilização. É compreensível que, nesta visão global do universo, o papel do profano seja mínimo. ( p.189) Assim, a terra pertencia a Deus, e aos homens cabia o direito de “ usufruir” dela, mas não o de possuí-la. Como isso, pode-se dizer que nem tudo que se aprendia na escola, com a educação moderna, era vivido, pois o conhecimento herdado pela tradição oral fomentava-se na totalidade do ser, ou seja, se materializava como as palavras sagradas e obriga o aprendiz a viver a palavra a cada gesto. ( p. 189)
Inclusive cada povo possui heranças ou dons que lhe são peculiares, assim transmitido de geração a geração como os Dogon do Mali têm a reputação de conhecer certos segredos e dom de curar sem deixar marcas como a lepra ou recolocar um ombro quebrado, até mesmo em caso de fraturas graves. Uma curiosidade bem interessante é que a tradição confere aos seus participantes um status social especial, podendo se manifestar a vontade, inclusive às vezes podem até contar mentiras descaradas e ninguém os tomará no sentido próprio. ( p. 193) Outro ponto que chama a atenção é que a sociedade africana está fundamentalmente baseada no diálogo entre os indivíduos e na comunicação entre comunidades ou grupos étnicos, os griots são os agentes ativos e naturais nessas conversações. (p.193)
O autor cria um sobtópico cujo título é “ Como tornar-se um tradicionalista” para tanto deve ser conhecedor e ter aptidões individuais, uma vez que o conhecimento era algo valorizado, pois este não distingue raça e nem “porta-paterna” ele enobrece o homem, como assim diz o provérbio. (p.200) interessante lembrar que o segredo velho não se compra com dinheiro, mas com boas maneiras. (p. 201)
A influência do Islã, segundo BÂ, grandes escolas islâmicas puramente orais ensinavam a religião nas línguas vernáculas. Independentemente de uma visão sagrada comum do universo e de uma mesma concepção do homem e da família.
O autor faz uma ilustração prática “História de uma coleta” de como narrativas históricas, entre outras, vivem e são preservadas com extrema fidelidade na memória coletiva de uma sociedade de tradição oral, conta que a maneira consegue reunir, unicamente a partir da tradição oral, os elementos que me permitiriam escrever a História do Império Peul de Macina no Século XVIII. O autor diz ainda, que usou o método de gravar as narrativas, sem a preocupação com a veracidade ou com um possível exagero. Essa coleta exigiu 15 anos de trabalho que no final manteve apenas os relatos concordantes, o que eram conformes tanto às tradições como também às das demais etnias. Provando que a tradição oral era perfeitamente válida do ponto de vista cientifico. Assim, nenhum narrador poderia mudar os fatos, pois a sua volta haveria sempre companheiros ou anciãos que imediatamente apontariam o erro, fazendo-lhe a séria acusação de mentiroso. (p.207)
Assim o escritor aborda as “Características da memória africana entre os povos do mundo, constatou-se que os que não escreviam possuíam uma memória mais desenvolvida. Inclusive a memória africana que registra toda uma cena com detalhes, contribuindo para dar vida a esta cena, sem receio de se repetir, pois são como arquivos que constitui uma verdadeira biblioteca onde os arquivos não estão “ classificados”, mas totalmente inventariados. (p. 208/209)
O autor conclui dizendo que para a África, a época atual é de complexidade e de dependência. Os diferentes mundos, as diferentes mentalidades e os diferentes períodos sobrepõem-se, interferindo uns nos outros, às vezes se influenciando mutuamente, nem sempre se compreendendo. Pois, a África do século XX encontra-se lado a lado com a Idade Média, o Ocidente com o oriente, no modo de pensar o mundo, com o “animismo”, modo particular de vivê-lo e experimentá-lo na totalidade do ser. De uns anos para cá uma importante parcela da juventude culta vem sentindo cada vez mais a necessidade de se voltar às tradições ancestrais e de resgatar seus valores fundamentais, a fim de reencontrar suas próprias raízes e o segredo de sua identidade profunda. (p.210)
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